Autorregulação na Infância


AUTORREGULAÇÃO NA INFÂNCIA
Por Isabela Saldanha

O desenvolvimento da autorregulação na infância é importante não só para a criança como para todos que convivem ao seu redor. Estudos mostram que crianças que se autorregulam desfrutam de maior bem-estar físico, emocional e social, ou seja, crianças com autorregulação gozam de boa saúde, de bom desenvolvimento escolar e se relacionam melhor com as pessoas. 
Mas, o que é a autorregulação e como posso ajudar meu filho a desenvolvê-la?
O QUE É AUTORREGULAÇÃO
Existe uma tendência de achar que autorregulação é o mesmo que autocontrole, mas esse conceito vai além. O autocontrole é uma força interna para resistir a impulsos, e, claramente, também é importante para as crianças saberem lidar com as tarefas e as tentações com as quais se deparam todos os dias. Contudo, a autorregulação é a capacidade de reconhecer seus sentimentos, emoções, dores e desejos perante situações, sabendo se controlar e se recuperar depois desse efeito estressor. Por exemplo, a criança está na sala de aula e quer conversar com seu colega enquanto a professora está ensinando a matéria. Primeiro, essa criança se autocontrola e pensa, não posso conversar com meu colega porque minha professora pode me mandar para fora da sala. Entretanto, ele fica impaciente, sem atenção na professora pensando no assunto que quer falar com o colega e olhando para o relógio esperando que a aula acabe rápido para conversar com o colega. O que vemos é, a criança desenvolveu seu autocontrole de não conversar com o colega, porém por outro lado ela não está focada na aula, perdendo todo o conteúdo. Com a autorregulação desenvolvida, a criança reconhece que ela está com o desejo de conversar com seu colega, se controla porque sabe que não pode, mas vai além, ela se autorregula para continuar focada no que é importante no momento. Ela se conscientiza sobre seus desejos e lida com esse estresse para continuar prestando atenção na aula e esperando o momento certo para conversar com o colega. Resumindo, autorregulação se refere a quão eficiente e efetivamente uma criança lida com um estressor e depois se recupera. 
DICAS PARA DESENVOLVER A AUTORREGULAÇÃO NA INFÂNCIA:
Primeiramente, é importante sabermos que as quatro principais fontes de estresse na vida das crianças hoje são: Biológica, Emocional, Cognitiva e Social. Cada um desses níveis influencia e é influenciado por todos os outros. Então, quando trabalhamos com autorregulação da criança, temos sempre que ter em mente que estamos olhando para os quatro níveis e não simplesmente um ou dois. Para muitas crianças, muito barulho ou estimulação visual ou cheiros fortes podem ser um estressor. Para outras, excesso de comida não saudável ou açúcar pode ser um estressor. Outras, não dormir o suficiente ou não se exercitar e não brincar com outras crianças é um grande estressor. Muitas crianças lutam com fortes emoções negativas, como medo, raiva, vergonha ou tristeza. Algumas acham as atividades em grupo estressantes. Então, é importante conhecer a criança e as fontes de estresse para trabalharmos com autorregulação.
O que fazer
  • IDENTIFICAR E REDUZIR O ESTRESSE – O primeiro passo é identificar a fonte de estresse e reduzir o nível de estresse geral da criança. Por exemplo, garantir que a criança durma bem, que receba alimentos saudáveis, pratique atividade física; ou desligar o rádio ou a TV no fundo, se suspeitarmos que o nosso filho é sensível ao ruído; ou limitar a quantidade de tempo gasto em computador ou jogos de vídeo game, se estes parecem deixar a criança agitada. Reduzindo o nível de estresse ajuda na boa qualidade do desenvolvimento evitando outros transtornos.
  • RECONHECIMENTO DAS EMOÇÕES – O segundo passo é ensinar a criança a reconhecer suas emoções, sentimentos, aumentando seu autoconhecimento. É importante que a criança tenha consciência dos fatores que a deixam calma e focada, bem como dos fatores que a deixam agitada e nervosa. Tarefas simples podem ser feitas, como por exemplo, conversar com a criança ensinando-a nomear seus sentimentos no momento em que ela estiver demonstrando estresse: raiva, fome, sono, cansaço, dor, incômodo e com o que ela está incomodada: barulho, cheiro, pessoas. Ou se ela está calma e focada, perguntar como ela está se sentindo: alegre, orgulhosa, cheia de energia. Outra atividade pode ser pedir para a criança mostrar nas carinhas com diferentes emoções como ela está se sentindo, pois ela vai estar associando a palavra com a expressão da carinha. Aumentar o vocabulário das emoções das crianças é um passo muito importante para ajudá-las a ter consciência de suas próprias emoções, para assim elas buscarem atitudes que as ajudam a se recuperar do estresse. 
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  • EMPATIA – E por fim, ajudar a criança a desenvolver a empatia, ou seja, aprender a reconhecer emoções e afetos das outras pessoas. Não só o reconhecimento de suas emoções é importante, mas o entendimento dos sentimentos dos outros irá ajudar a criança a desenvolver melhores habilidades sociais. Para a criança desenvolver empatia é necessário que ela se coloque no lugar do outro. Por exemplo, em situações de briga entre duas crianças, pedir não somente para eles descreverem o que sentem, mas também o que o colega pode estar sentindo e o motivo da briga. Outros momentos podem ser de história ou de um filme, onde o adulto pergunta à criança o que ela acha, por exemplo, que o pai da criança no filme está sentindo ou o que esta criança pode estar sentindo. Animais de estimação também ajudam muito nesse processo, pois uma vez que a criança se torna cuidadora, ela aprende a identificar o animal com suas necessidades e desejos, passando a respeitá-los. Elas diferenciam fome, frio, dor, identificam se eles querem brincar ou se estão cansados. Portanto, a empatia colabora na relação da criança com o seu meio social.


Toda criança tem a capacidade de desenvolver autorregulação propiciando seu bem estar físico, emocional e social. Quando as crianças estão calmamente focadas e alertas, elas são mais capazes de modular suas emoções, prestar atenção, ignorar as distrações, inibir seus impulsos, avaliar as conseqüências de uma ação, entender o que os outros estão pensando e sentindo, e os efeitos de seus próprios comportamentos. A autorregulação permitirá que as crianças, à medida que amadurecem, guiem seu próprio comportamento em direção a um objetivo, apesar da imprevisibilidade do mundo e dos próprios sentimentos.

FIQUE ATENTO A ESSES SINAIS NAS CRIANÇAS:
  • tem dificuldade em prestar atenção, ou até mesmo responder ao seu nome
  • é muito mal-humorado quando acorda de manhã ou nunca parece estar feliz durante o dia
  • argumenta muito, ou parece querer se opor sempre. Fica zangado ou recorre a palavras ofensivas ou mesmo à violência
  • é altamente impulsivo e facilmente distraído
  • é difícil para a criança permanecer sentado ou ir para cama
  • não convive bem com outras crianças
  • fica irritado quando tem que desligar a TV ou parar de jogar o videogame


Referencia
Stuart Shanker. (2013). Calm, Alert, and Happy. In Ministry of Education (Ed.), Think, Feel, Act: Lessons from Research About Young Children (21-26). 

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